Fazer compras com crianças pode se tornar aula prática de finanças

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Fazer compras com crianças pode ser uma oportunidade para explicar aos pequenos como cuidar do orçamento doméstico, fazer escolhas, priorizar gastos e lidar com frustrações financeiras.

E, de quebra, ao passar tais ensinamentos, pode-se evitar pedidos intermináveis e até escândalos no meio da rua ou do shopping.

Resistir a tais pedidos tem sido difícil para a maioria dos pais. Pesquisa feita pelo SPC Brasil em todas as capitais do país mostrou que 52% dos pais entrevistados já haviam cedido à pressão dos filhos durante uma compra.

Muitas vezes é o exemplo dos pais que influencia o comportamento dos pequenos em lojas, pedindo tudo o que veem sem pensar se precisam ou não.

“Eu e meu marido só compramos o que precisamos. Vamos ao supermercado com lista. Se precisamos de um sapato é só aquele que se compra”, diz a dona de casa Michele Tavares, mãe de três crianças, de 12, 10 e 5 anos.

Ela diz não ter trabalho com os filhos quando vai às compras. “Acho que depende da criação. Se libera da primeira vez, fica mais difícil de segurar depois.”

Para Cassia d’Aquino, especialista em educação financeira infantil, fazer a lista do supermercado com a criança é uma oportunidade para explicar sobre as necessidades gerais da família (arroz, carne, xampu, detergente) e particulares da criança (guloseimas, brinquedos etc.).

“A criança tem que saber o que vem antes. Ela gosta de participar, de saber que suas necessidades são consideradas e de fazer parte do grupo que toma decisões”, disse.

Uma forma de entretenimento e aprendizado para os mais velhos – a partir dos sete anos, mais ou menos – é dar uma pequena quantia ao ir ao supermercado e deixar que escolham como gastar.

“Você dá uma tarefa para a criança, que terá de procurar algo legal que caiba nesse valor. Se quiser comprar algo mais caro, você pode ensinar que, se for mesmo importante, ela pode guardar aquela quantia e comprar esse item no próximo mês”, diz Patricia Lages, autora dos livros “Bolsa Blindada 1” e “2”.

ESCOLHAS

Essa lição de como usar melhor o dinheiro é largamente usada na casa da economista Sabrina Rodrigues, que tem uma filha de nove anos e um filho de cinco.

Ela conta que, quando viaja, define uma “cota” de gastos para os filhos. Quando pedem algum presente durante o passeio, ela os lembra de que será pago com aquele dinheiro a que têm direito. “Se não era tão importante, eles desistem, reconsideram.”

Mas a participação das crianças no processo de compra nem sempre foi uma prática recomendada, quando se pensava apenas em controlar o orçamento familiar.

“Essa ótica desconsiderava que a criança cresce e precisa aprender a lidar com o dinheiro”, pontua Álvaro Modernell, diretor da Mais Ativos Educação Financeira.

Ele diz que, ao passar pela aprendizagem na prática, o conceito acaba se fixando de maneira mais natural e dá um exemplo: ao optar entre duas frutas, deve-se mostrar o preço de cada uma e pedir ajuda na escolha. “Ela aprende o que está caro e barato. É lição de matemática também.”

Mas é preciso bom senso para não exigir da criança mais do que ela tem maturidade para fazer. “Se for comprar presente para um coleguinha e não quiser levar nada para o pequeno, é melhor não levá-lo à loja de brinquedos”, diz Cássia D’Aquino.

A situação de estresse sempre pode acontecer. O ponto de venda é um lugar preparado para estimular a consumir e a criança pode acabar fazendo a exigência da compra.

Como agir diante disso? “Uma alternativa é, em vez de negar ou ceder, dizer a gente vai ver depois'”, sugere a educadora financeira Ana Paula Hornos.

Mas, nesse caso, é importante realmente voltar ao assunto depois com a criança, ressalta, pois esse exercício vira uma prática saudável de como lidar com o dinheiro.

“Você pode fazer uma listinha do que ela pediu em uma semana e discutirem o que era importante”, diz.

Fonte: Folha de São Paulo