Adultos dependentes prejudicam aposentadoria dos pais

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Cathy Egan se sustenta desde que tinha 18 anos, quando trabalhava como garçonete em Minneapolis. O filho dela, de 23 anos, ainda mora em casa e depende de sua mãe solteira para os gastos de transporte, alimentação e outras despesas.

Egan, agora com 50, só começou a reservar dinheiro para a aposentadoria há cinco anos, quando passou a trabalhar como auxiliar de enfermagem para a Secretaria de Saúde de Veteranos dos EUA, seu primeiro emprego com benefícios trabalhistas.

Embora também tenha um filho no Ensino Médio, ela não consegue se desvincular dos gastos do mais velho, que ganha US$ 8,50 por hora, além de gorjetas, fazendo entregas de pedidos em meio período para um restaurante em St. Paul.

“Neste momento, continuo sendo a fonte de sustento”, disse ela.

As pessoas que nasceram no período de pós-guerra estão arriscando a aposentadoria por gastarem demais com os filhos adultos.

Diante da estagnação do salário real e do desemprego acima de 12 por cento na faixa etária de 16 a 24 anos, muitas famílias continuam a dar mesadas a filhos que já não estão na escola para cobrir as contas de aluguel, celular, carros e férias.

Uma pesquisa realizada em julho de 2014 pela American Consumer Credit Counseling, uma organização sem fins de lucros, descobriu que a proporção de famílias americanas (1 de cada 3) que concedem assistência financeira a filhos adultos é maior do que a proporção de famílias que sustentam pais idosos (1 de cada 5).

Entre as que ajudam os filhos, 41 por cento arcam com o transporte, 57 por cento com as contas da casa e 24 por cento com os empréstimos estudantis, entre outras despesas. Para cobrir todos esses custos, 40 por cento dos pais estão gastando menos consigo mesmos.

Problema permanente

“Isso está gerando uma grande distorção no dinheiro reservado para a aposentadoria”, disse Pamela Villarreal, membro sênior do Centro Nacional de Análise de Políticas, em Dallas.

“Quanto mais essa geração de pais pagar pelos filhos adultos, menos poderá reservar para si, o que é preocupante, pois agora a expectativa de vida é maior, e as pessoas precisam que suas economias durem até os 80, 90 anos de idade. Além disso, a ajuda que incialmente seria temporária, durante a recessão, se tornou permanente”.

Mais de um terço dos adultos da geração Y recebe assistência financeira regularmente dos pais, e 1 de cada 5 ainda mora com um progenitor e não paga aluguel ou contas, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Bank of America Corp. em novembro de 2014.

Não só quem está desempregado ou ganha pouco precisa de ajuda.

A pesquisa, que contou com 1.000 participantes de 18 a 34 anos, descobriu que entre aqueles que ganham mais de US$ 75.000 por ano, 25 por cento recorreu aos pais em algum momento para fazer o supermercado e 21 por cento recebeu dinheiro para comprar roupas.

Não é preciso que a generosidade dos pais chegue a extremos para potencialmente ser daninha. Casais de 55 a 64 anos tinham apenas US$ 111.000 economizados para a aposentadoria em 2013 (o saldo médio entre os planos de aposentadoria dos EUA 401(k) e IRA), de acordo com a mais recente Pesquisa de Finanças do Consumidor, realizada pela Reserva Federal desse país. O valor totaliza pouco mais de US$ 4.000 por ano em aposentadoria, calculando-se uma taxa anual de retirada de 4 por cento.

Amor exigente

Caso os pais tenham algo de dinheiro extra a cada mês, eles deveriam maximizar a contribuição para os planos de aposentadoria ou amortizar hipotecas e outras dívidas, ao invés de subsidiar os filhos, dizem os consultores financeiros.

“Ninguém pode pedir um empréstimo para a aposentadoria”, disse John Sweeney, vice-presidente executivo para estratégias de investimento e aposentadoria da Fidelity Investments. “Então, quanto mais desfavorecido você estiver, mais você deve dizer a seus filhos adultos que não tem dinheiro para dar-lhes”.

Sweeney diz que, mesmo para pais abastados, financiar filhos adultos é uma má ideia.

“Dar-lhes dezenas de milhares de dólares por ano para custear apartamentos, carros e refeições em restaurantes transmite a mensagem de que você vai continuar pagando por um estilo de vida que eles não poderiam arcar por conta própria e que você provavelmente não possa, nem queira, financiar para sempre”, disse ele. “É melhor ensinar-lhes a gastar menos do que ganham e economizar tudo o que você precisar para uma longa velhice”.

Egan começou a colocar em prática um pouco do “amor exigente” que Sweeney prega. Recentemente, ela passou a cobrar do filho US$ 150 por mês pelo aluguel, e agora ele paga a própria conta de celular e o seguro do carro.

Fonte: Exame