Deixar de escovar os dentes custa apenas R$ 0,25. Esquecer as luzes acesas sai pela bagatela de R$ 0,50. Mas desobedecer o pai ou a mãe, falha grave, custa aos pequenos R$ 3. Funciona assim a tabela de descontos nas mesadas de R$ 50 dos filhos que o juiz Vitor Yamada, de 37 anos, implementou. O método, que fez sucesso nas redes sociais, é criticado por especialistas em educação financeira.
— Não se pode “castigar” ou “premiar” crianças por comportamentos que são, na verdade, itens de cidadania. Com a recompensa financeira, corremos o risco de criar adultos que não darão o devido valor a questões como economizar água e luz — explica Ricardo Pereira, autor do livro “Dinheirama”.
Até mesmo aquelas inocentes recompensas financeiras devido a um bom comportamento ou a boas notas estão em xeque. O educador financeiro Reinaldo Domingos critica famílias que adotam um modelo de empresa em casa:
— A relação com a família não pode ter remuneração, usar o dinheiro como benefício ou punição. Dessa forma, é grande a probabilidade de se formar uma pessoa mesquinha ou consumista demais, lá na frente.
Yamada, que postou a foto apenas para mostrar à família, aceita as críticas. Mas o juiz acredita que, assim, deixará seus filhos mais preparados para “o mundo real”.
— Se alguém faltar ao trabalho e não justificar, será descontado. Acho importante que eles entendam isso desde já — explica ele. — Quando minha filha pediu para começar a receber mesada, decidimos que iríamos estabelecer algumas condições. Para ganhar o dinheiro, eles devem cumprir algumas obrigações diárias, mas coisas de crianças.
Na casa de Shirley Viana, de 35 anos, e André Luiz, de 49 anos, a mesada dos quatro filhos não depende do comportamento deles.
— Não podemos incentivar que os jovens ajudem e cumpram suas obrigações apenas para receber mais. Quando deixam de fazer sua função, não corto o dinheiro, mas a diversão — conta Shirley. — Como foram guardando ao longo do ano, em dezembro de 2012, os meninos compraram artigos eletrônicos, como um tablet, enquanto Thamires preferiu gastar suas economias no shopping.
Dicas para dar mesada
Especialistas se dividem sobre a idade ideal para começar a dar mesada, mas costumam recomendar que crianças a partir de 7 anos comecem a conviver com dinheiro. O educador financeiro Reinaldo Domingos sugere que, ao longo de um mês, pai e mãe anotem todo dinheiro que as crianças pedem para seus desejos, como comprar bala, figurinha e brinquedo. Se eles forem pequenos, não é bom incluir o valor do lanche da escola na mesada.
A quantia varia conforme a renda familiar. O ideal é dar 50% do total consumido pelos filhos habitualmente. Os pais devem se reunir com os filhos e explicar que vão começar a dar mesada e que as crianças deverão usar o dinheiro em 30 dias. Domingos recomenda que os pais se reúnam com um filho por vez. Os valores das mesadas podem variar conforme os gastos de cada um.
Em seguida, é bom perguntar para a criança quais desejos ou sonhos quer realizar. Os pais devem se oferecer para guardar os outros 50% para alcançar este objetivo. É importante efetivá-lo, para que a criança entenda o poder de realização do dinheiro e crie o hábito de poupar. Independentemente do valor, é fundamental que a família acompanhe os gastos dos filhos. Para o educador financeiro Ricardo Domingos, as crianças costumam repetir o comportamento dos pais.
FONTE: Extra