A combinação de pancadas de chuva e solo impermeabilizado forma o cenário que leva ao alagamento de ruas, um dos maiores pesadelos dos motoristas.
“A chuva acabou alagando o local onde meu Ford Fiesta estava estacionado. A água chegou até a metade da porta, quase cobrindo o capô”, conta o diretor de criação Máurio Galera, 29.
A pior notícia, no entanto, foi dada quando tudo parecia ter voltado ao normal. “Somente no dia seguinte consegui abrir o carro. Até os encostos dos bancos tinham marcas de água, e havia poças no piso”, relembra.
INEVITÁVEL
A história de Galera é apenas uma entre muitas em que a enchente não pôde ser evitada, e levanta duas questões: como agir no meio de um alagamento e como recuperar o veículo depois?
Nilton Monteiro, diretor executivo da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), orienta que o correto é atravessar a água em velocidade constante, mantendo o giro alto.
“No caso de carros automáticos, é preciso travar o câmbio em uma marcha baixa e passar lentamente, sem desacelerar. Caso o motor morra, não tente ligá-lo de novo. Isso porque um dos danos mais sérios ao veículo ocorre quando a água é aspirada para dentro das câmaras de combustão. Como o líquido não pode ser comprimido como o ar, as bielas tendem a quebrar. É o chamado calço hidráulico”, explica.
TRÊS NÍVEIS
Quando a água baixar, é hora de contabilizar os prejuízos. “Há três níveis. No primeiro, apenas os carpetes são atingidos; no segundo, os bancos ficam molhados; o terceiro, e mais sério, é quando a água cobre o painel”, alerta Gerson Burin, especialista em segurança viária do Cesvi Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária). Na última situação, o veículo pode sofrer perda total.
Burin recomenda que, em todos os casos, os veículos sejam levados a uma empresa especializada em higienização automotiva. “Não é recomendável fazer a limpeza em casa, uma vez que carpetes e mantas de isolamento acústico e térmico terão de ser removidos”, explica.
O processo, no entanto, não é uma garantia de que o veículo ficará como antes.
“Na maioria das vezes obtivemos sucesso, mas não é possível afirmar categoricamente que a higienização será suficiente para que o carro volte ao estado normal”, avisa Adalberto Gonçalves, da Damy Autocenter, empresa que realiza serviços de higienização.
Ele também lembra que é importante reduzir ao máximo o tempo entre a ocorrência e a limpeza do carro, uma vez que as impurezas tendem a ficar impregnadas.
Assim como o resultado, o preço do serviço tende a variar de R$ 450 a até R$ 2.000 dependendo do tamanho do veículo e da área atingida.
“Duvido que meu carro tenha um futuro bom, então quero me livrar do Fiesta o quanto antes”, lamenta Galera. Até agora, ele notou problemas na embreagem e no ar-condicionado.
O publicitário poderá encontrar dificuldades para passar o carro adiante. Veículos que são vítimas de inundação tendem a perder valor de mercado.
“Mais da metade dos veículos inundados são irreparáveis. A médio e longo prazos, os componentes eletrônicos são os que mais sofrem, pois normalmente oxidam”, revela Monteiro, da AEA.
CHEIRO RUIM
Evitar comprar um carro vítima de enchente é simples, segundo especialistas. “Como a água de enchente não é limpa, o cheiro forte e ruim é um dos traços mais comuns”, explica Burin.
Outros indicativos são o acúmulo de sujeira sob as borrachas de vedação das portas e nos cintos de segurança, manchas nos estofados e condensação de água nos faróis e nas lanternas.
DE OLHO NA APÓLICE
“A cobertura compreensiva também protege o segurado contra danos da natureza, como enchentes, queda de raio, granizo, vendaval e árvores que eventualmente atinjam o veículo”, afirma Laur Diuri, diretor executivo de sinistros da Allianz Seguros.
Nesse caso, além de um guincho para a remoção do veículo, o segurado tem direito a transporte até o destino ou de volta ao domicílio. Há também carro reserva.
Segundo Laur, a única situação na qual o segurado pode ter o sinistro negado é caso haja comprovação de que ele agiu de má fé para receber a indenização.
DANOS CAUSADOS PELAS ENCHENTES
Calço hidráulico: água é aspirada para dentro das câmaras de combustão. Como o líquido não pode ser comprimido como o ar, as bielas tendem a quebrar;
Oxidação dos componentes eletrônicos;
Mau cheiro no interior e sujeira nos cintos, sob os bancos e em nichos de difícil acesso;
Mancha nas partes de tecido da cabine, como revestimentos das portas e assentos.
Fonte: Folha Online