Quanto mais jovem o investidor, maior deve ser a composição de renda variável dentro do plano
Assumir riscos é a primeira lição para seu dinheiro render mais no longo prazo. Ao escolher a carteira de um plano de previdência, essa regra torna-se ainda mais urgente. Para consultores financeiros, não adianta esperar uma rentabilidade fantástica se todos os ativos do plano estiverem alocados em renda fixa.
A previdência complementar costuma formar suas carteiras conforme o perfil do segurado. As mais conservadoras aplicam em papéis de baixo risco, como crédito privado, títulos pós-fixados ou Tesouro Direto de longo e curto prazo. Nas moderadas, destina-se um pequeno percentual em renda variável, como ações, fundos imobiliários ou multimercados.
As mais arrojadas alocam até 49% do mix – limite máximo permitido pela Susep (Superintendência de Seguros Privados) – em renda variável. Embora essa seja a composição mais recomendada para quem deseja um retorno satisfatório no longo prazo, está longe de ser a primeira escolha dos investidores.
“O investidor anda muito avesso ao risco nos planos de previdência. Mais de 90% da indústria [de planos] é concentrada em renda fixa”, afirma o superintendente de Produtos de Previdência da Icatu Seguros, Sérgio Prates. Parte dessa cultura deve-se à herança de um período em que a renda fixa brilhava sozinha no Brasil.
Em 1993, para dobrar o capital investido eram necessários apenas três anos e meio aplicando em ativos de baixo risco, lembra o executivo. Hoje, seriam necessários cerca de 18 anos para alcançar o mesmo resultado. Isso porque a Selic, a taxa básica de juros, despencou de lá para cá: em outubro de 1997, a taxa de juros batia 45% ao ano. Hoje, está mantida em 11%.
Neste novo cenário, não existe mais almoço grátis, na opinião do planejador financeiro e autor do livro “Meu Planejamento Financeiro”, Valter Police Jr. Até os mais conservadores deveriam escolher um plano que aplique algum percentual em renda variável, recomenda. “Se o investidor quiser um rendimento melhor na previdência, precisará assumir algum risco. No longo prazo, ele quase sempre compensa”.
Investidor jovem tem mais liberdade para ousar
Assumir risco não significa perder tudo de um dia para outro, explica Police. Mas haverá meses em que a rentabilidade tende a ser incrível, e períodos em que pode ser extremamente ruim. “Quem não se incomoda com essa variação pode escolher um plano que aplique até 49% dos ativos em renda variável”, diz.
Quanto mais jovem o investidor, mais ele tem a ganhar com ativos de maior risco no longo prazo, observa Prates, da Icatu Seguros. Já quem inicia um plano de previdência com idade mais avançada deve rever esta estratégia.
“O investidor que tem menos anos até sua aposentadoria deve pensar em ser conversador e avaliar se vale mesmo a pena fazer um plano, pois terá menos tempo para investir. Nesta idade, a previdência pode ser mais válida do ponto de vista sucessório do que para gerar uma renda”, diz Police Jr.
Fundo mutante fica mais conservador com o tempo
A indústria de previdência nos Estados Unidos ganhou força com um fundo que muda de perfil a partir do ciclo de vida do segurado: aloca grande parte da carteira em ativos mais arriscados quando o investidor ainda é jovem, e vai reduzindo gradativamente o risco conforme ele se aproxima da idade da aposentadoria.
Na Icatu, o produto existe desde 2005, quando foi trazido ao Brasil pela primeira vez. Prates reconhece, contudo, que o produto não pegou por aqui. “Os clientes ainda preferem investir em renda fixa porque não conhecem o mercado de ações e se sentem desconfortáveis com ele”, diz.
O fundo tem composições diferentes, de acordo com a data do vencimento: 2020, 2030 e 2040. “O plano terá o máximo de ações no início do aporte e, quando se aproximar do vencimento, estará praticamente 100% conservador”, explica Prates.
É possível migrar seu plano de previdência
Quem está insatisfeito com a rentabilidade de seu plano tem a opção de migrar para outro sem custos. Mas algumas seguradoras cobram taxas de carregamento no resgate, especialmente para fundos com valor menor, se a migração for feita para o plano de outra seguradora. Por isso, é preciso avaliar se há custos na migração e, em caso positivo, se compensa fazer a mudança.
Para o planejador Police, é sempre bom levar qual a taxas de administração antes de optar pelo plano. Um estudo da consultoria Keyassociados, de 2012, mostrou que as taxas destes planos podem consumir em torno de 30% dos rendimentos acumulados em 30 anos.
Também incide a cobrança de Imposto de Renda, cuja alíquota varia de 27,5% a 7,5%, de acordo com o tempo do investimento e o regime escolhido: PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livre) ou VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livre).
Também é possível planejar a previdência investindo diretamente em ativos no mercado. Police sugere diversificar a carteira com renda variável (ações, fundos de ações, fundos imobiliários) e títulos públicos de longo prazo, como as NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional Tipo B). “Se o investidor for muito conservador, pode alocar uma porcentagem menor em ações e maior nos papéis públicos, que são mais seguros”, sugere.
Fonte: Ig